11.5.02

::O Primeiro Pranto

Hoje eu desabafo
Como se há mais de séculos eu não o fizesse
Hoje eu me entrelaço
Nas linhas desse texto como se assim eu quisesse
Simbolizar o quão confuso o momento está
Representar os rumos que a vida pode levar
Ah, e são tantos! . . .
Ontem eu me vi à beira de um sonho
A um passo da fronteira entre ilusão e realidade
Hoje o que me proponho
É não derramar tantas lágrimas por não estar em liberdade
Pra sonhar, esperançar, buscar nos delírios a fuga mais pura
Dos desejos, desafios, da rotina que tortura
Tortura. . . a ponto de embaraçar os pensamentos
Atropelar as alegrias, enegrecer os bons momentos
Tortura e não pára, alegra-se em prosseguir
Até que as lágrimas não se contenham e comecem a cair
E elas se vão . . . convertem em rios minha dor, minha solidão
Eu que há bem pouco tinha o brilho do mais reluzente metal
Agora me acho perdido num labirinto continental
Onde só existe um ser
E uma única saída a se achar
Onde só há o sofrer
E tudo que a ele pode nos levar . . .
. . .E aquele que há bem pouco era o rei
O expert na junção melódica das palavras
Agora já as desordena, num desafino que entristece quem as cantava
Para todos os lados, por todo lugar
E a cada instante, mais eu vejo minha imagem se distanciar
De todos que me cercavam, os poucos que ainda estavam ao meu lado
Que deixaram um rastro nebuloso, triste, assustador, gelado
Se distanciando daquele que eles tinham que aturar
Das palavras venenosas que ele estava sempre a destilar . . .
. . . Por isso hoje eu desabafo, esqueço a timidez
E tento me declarar como se fosse a primeira vez
Como se fossem esses meus primeiros suspiros que vão se eternizar
E como se essas velhas companheiras
Fossem as primeiras lágrimas que eu estivesse a derramar
Como se fosse a primeira desilusão, a primeira sensação de dor
Como se fosse meu o meu coração, e como se nele houvesse amor. . .
. . . Desabafo e digo que o que melhor sei é sofrer
Exclamar minhas desilusões com toda a intensidade que ainda posso ter
Desilusões, que quando caladas, se comprimem e dão peso a meu vago coração
Mas, que quando livres, linhas suficientes para se abrigarem não encontrarão
E vão se perder rumo ao infinito, à imensidão
Assim como meu pranto e minha inspiração
Que se iniciam com um descontentamento, uma inquietação dentro de mim
E que só hão de me deixar quando em meus versos for escrita a última lágrima
Meu fim