5.8.02

::Joguei meu passado no lixo

Joguei meu passado no lixo
Me desfiz de tudo
As lembranças
De quem eu fui
De quem ainda sou
Rabiscos, cálculos, teorias
Foram tantos, eram tantos
E nada ficou

Joguei no lixo
O pretérito imperfeito
E o mais-que-imperfeito
Perfeito nunca foi...
Eu que era perfeito!
Sabia de tudo de uma só vez
Eu que era perfeito?
Era o 1 + 1 = 3

Joguei no lixo
A papelada toda
E os neurônios que nela deixei
As horas a fio decodificando
O que eu não sabia
E não sei

Enfiei no fundo do lixo
Os dias que deixei de viver
O medo
O relógio adiantado
O olhar lacrimejante

Enfiei no lixo
O espelho
A feiúra em conserva
A perna-de-pau
O crânio
E o esqueleto restante

Enterrei no fundo do lixo
Os abutres
As jararacas
E os urubus

Enterrei e fiquei de luto (por)
Uns anjos meus
Que se foram sem pedir permissão
Sem dar adeus

Joguei meu passado no lixo
Mas para não ficar com a estante vazia
Deixei as estrofes
E as melodias
Com as quais vou tentar construir do meu jeito
O presente-mais-que-perfeito

Joguei meu passado no lixo
Enfiei tudo num saco
E levei pra bem longe
O lado vil do dilema

Joguei no lixo
O passado que nunca tive
O passado que ainda pensa que vive
Nos versos desse poema