31.10.02

::Esse é um texto dissertativo sobre a diversidade linguística que há dentro de uma mesma língua que fiz para a faculdade, já há algum tempo. Vocês podem achá-lo um pouco deslocado do conteúdo habitual do P.Q.P., mas, como eu diria nos meus tempos de infância, o blog é meu e eu publico o que eu quiser. Brincadeiras à parte, espero que gostem.

::Os “portugueses” do Brasil

Você alguma vez já imaginou como seria se tivéssemos que sair diariamente de casa com um dicionário ou uma gramática embaixo do braço para nos comunicarmos com os outros nas ruas? Seria, no mínimo, interessante, mas provavelmente não muito eficiente, já que o português dos dicionários e gramáticas não é o mesmo falado pela maioria da população brasileira. Essas publicações acadêmicas não seriam úteis, portanto, se quiséssemos saber o que um adolescente quer dizer quando afirma que “a festa tava ‘bombando” ou ainda se ouvíssemos traficantes de drogas conversando sobre a quantidade de “isca” que receberam. Devemos ter a consciência de que existem diferentes níveis de linguagem e de que cabe a nós dominá-los a fim de entendermos o que se passa à nossa volta e de fazer com que sejamos entendidos.

Ser um poliglota da própria língua é, ao mesmo tempo, algo necessário e desafiador. A grande dificuldade está na maneira como vamos entrar em contato com realidades lingüísticas diferentes da nossa, sejam elas social ou profissionalmente distintas, objetivando entender o que se passa nesses diversos meios sociais e profissionais. O modo mais prático de dominar várias modalidades de linguagem parece ser através do acesso a diversos meios de comunicação, que utilizam a língua em níveis adequados ao público ao qual se dirigem. Ler vários jornais e revistas e assistir a programas de TV destinados a públicos distintos podem nos fornecer um vasto vocabulário de termos utilizados pela população no dia-a-dia cujos significados os dicionários desconhecem.

O desafio maior é enfrentado, portanto, pelos profissionais da área de comunicação, que necessitam adquirir uma bagagem lingüística variada para estarem sempre aptos a informar, independentemente do público leitor/espectador da informação. A língua não pode ser uma barreira para o jornalista na transmissão dos fatos e notícias. Ele tem que dominar as variações da língua utilizadas pelo seu público receptor, por mais diferente que elas sejam da linguagem normalmente utilizada por ele, pois o objetivo de um jornalista é informar da forma mais clara possível.

Fica evidente, se levarmos em conta os fatos aqui apresentados, que dominar a norma culta da língua não é o bastante para nos comunicarmos de forma eficiente. A norma culta é apenas uma das modalidades da língua, constantemente modificada pela dinâmica do falar do povo e que portanto, não representa fielmente a realidade da língua utilizada no cotidiano. Devemos nos esforçar ao máximo para conhecer os diversos “portugueses” falados no Brasil para que sejamos considerados bons falantes da língua, capazes de saber, por exemplo, que a festa “bombada”, na verdade, estava animada, cheia de gente, e que os tais traficantes receberam um carregamento de maconha.