9.11.02

::Carnaval

Falei muito pouco
Calei demais a boca
Mudei muito de rota
Baixei muito a cabeça
Ameacei
Não fiz nada
Fechei a mão pra dar o soco
Levei muita porrada
Caí, caí de novo
Caí mais ainda
Fui além do fundo do poço
Perdi um carretel de linha

Mas baixou o santo em mim
E decidi ser feliz
Deixar os erros errados
E levantar o nariz
Começar cambaleando
Acertar o passo e ir em frente
Derrotar o derrotismo
E buscar um eu mais decente

Porque desse mim já tô cansado
Esse mim made in serra
Que apagava todas as luzes
E se trancava numa cela
Esse mim já deu um caldo
Que secou, sumiu, morreu
Agora o lance é valorizar
Demasiadamente eu
Zombar de quem me zomba
Rir de quem ri de mim
Olhar sempre pra frente
Dar mais espaço ao sim

Porque já me neguei em excesso
Já cantei meu ódio em versos
Estendi demais a mão
E ninguém me tirou do chão
Mas cansei dessa auto-estima porca
De comer terra e minhoca
De andar na contramão
De buscar a perfeição

Agora eu quero é ser um perdido
Se for isso a felicidade
Quero ombros amigos
E não meias amizades
Vou falar tudo na lata
Deixar caras rachadas
Fazer uma serenata
Procurar a pessoa amada
Botar o corpo e a mente em forma
Fazer da alegria uma norma
A ser seguida sem contestação
Tomar o caminho certo
E esquecer que há outra direção

Vou ser e feliz e ponto
De exclamação
E não o final
Vou trancar o baixo-astral no armário
E pra sempre pular carnaval