12.11.02

::Das antigas...

::Meus Versos

Vejo os versos de ontem
E me sinto um tolo por tê-los escrito
Tão vazios
Tão medíocres
Tão pobres
Tão meus
Combinações de estranhas palavras
Fusão do papel com o meu eu
Momento de angústia, ansiedade
Ausência de paz
A inquietação que me leva a escrever
Os versos que jamais quis ter escrito
Os versos que não sei escrever
As estrofes que não sei construir
As rimas que não sei rimar
Os corações que não consigo tocar
As lágrimas que não consigo derramar
Nos olhos da meia dúzia de leitores meus
Dos meus versos
Tão feios
Tão desafinados
Tão tortos
Tão cheios de mim
Que já chego a me confundir
A me perder entre eles
Entre os versos de ontem, de anteontem
De muito antes, talvez os primeiros
Os mais bobos
Os mais importantes
Os culpados por tantos outros
Os inesquecíveis...
Me perco
E construo os momentos da minha vida em forma de poesia
Onde cada palavra é um dia
Cada verso uma semana
Cada estrofe um mês
Cada poema um ano
Formando o quebra-cabeças da minha história
Com seus altos e baixos, derrotas e glórias
O passar do tempo
Dias, semanas, meses, anos
O construir de páginas tão cheias de nada
Tão inocentes
Tão burras
Tão desejosas
Tão solitárias
Sim, há uma imensidão que as separa de tudo
Que as deixa isoladas, orbitando em torno da existência
Querendo ser algo mais
Querendo representar algo mais
Querendo ser
Pois neste livro da minha vida
Repleto de páginas inexistentes
Não há um poema
Uma estrofe
Um verso
Uma palavra
Que não tenha exigido de mim
Sucessivos sacrifícios de minha alma
Entrega total ao que era feito
Aos meus versos
Tão simples
Tão incompreensíveis
Tão tímidos
Tão mínimos
Tão pouco
Tão insignificantes
E justamente por isso
Tão perfeitamente meus