5.1.03

::Já que a terceira edição do Big Brother Brasil está em vias de começar - estréia em 14/01/2003 -, deixo aqui um texto meu bem recente sobre os reality shows.

::Reality shows: as telenovelas do momento

Depois de faturarem altas cifras vendendo para o público a magia da teledramaturgia, as emissoras de TV agora voltam sua atenção para um meio supostamente novo de conquistar a audiência e inflar os cofres: a venda da realidade.

O que os reality shows – Big Brother, Casa dos Artistas, entre outros – fazem, na verdade, é criar uma espécie de dramaturgia passada ao telespectador com uma carga de realidade ainda maior do que a das telenovelas. O público raramente nota como são designados a cada participante/personagem um papel e um destino mais ou menos definidos já no início do show. Não seria exagero comparar esses participantes a peças ou pinos de um jogo estrategicamente arquitetado com o intuito de manter o ritmo da narrativa e os picos de audiência.

O sucesso é garantido com a escolha de um elenco heterogêneo – de diferentes faixas etárias, meios e níveis sociais – que possa ser bastante exposto a situações geradoras de desentendimentos ou relacionamentos amorosos (leia-se: sexuais). Os ingredientes necessários são acrescentados aos poucos por uma equipe de produção que brinca de ser Deus ao criar tais realidades. Credita-se veracidade aos acontecimentos e comportamentos, como se os jogadores não soubessem da existência de dezenas de câmeras espalhadas pelo cenário no qual alimentam, durante poucas semanas, a ilusão de se tornarem famosos.

Ilusão sim, pois a fama proporcionada é efêmera, dura até que os próximos personagens, da próxima realidade, sejam o centro de atenção da mídia e do povo. A diferença entre essas novelas e aquelas que se assumem como tais é que os atores da novela do mundo real não têm vaga reservada em produções futuras. Nem poderiam, já que, pelo menos para quem consome o seu dia a dia, eles não são personagens, e sim eles mesmos. Esses programas oferecem a oportunidade de fama fácil, lucrativa e passageira; dão às pessoas ditas normais a chance de alcançar o topo. Não para que suas vidas melhorem a partir de então, mas para que o tombo e as cicatrizes sejam maiores. Atraem gente em busca do estrelato e produzem vítimas da fama.

Os reality shows são, portanto, a criação e reinvenção contínua do real. De uma realidade que só existe enquanto for atraente e lucrativa; que não muda, é modificada; não acaba, tem um espetacular final; não tem continuidade, é sempre outra e efêmera como seus personagens. Uma mega produção sem créditos autorais. O que cabe a nós, telespectadores? Escolher o próximo participante a ser eliminado, a próxima capa da CARAS ou da PLAYBOY e torcer para que a atual onda de efemeridade assole também os reality shows. E que venha a próxima atração.