31.12.05

SEGE FELIS!





É assistindo à performance de Maurício Manieri (sim, ele vive!) no especial de réveillon da Ana Maria Brega, digo, Braga, que preencho estas linhas. A Ana Maria é, sem dúvida, inspiração para falar de ano novo e das resoluções que muitos fazem no dia de hoje, como metas para os próximos 12 meses. Afinal, fim de ano é a época de presentear o próximo com clichês embrulhados em papel de presente e laçarote vermelho. São dias em que, a cada cinco minutos, parecemos estar assistindo à abertura do "Mais Você", quando a dona de casa mais pop do Brasil - e que, segundo minha mãe, é sósia do Supla - entoa mantras em prol do bem estar coletivo das tias varizentas e gordas que a prestigiam dia após dia. São inteligências do tipo "viva o hoje, porque o amanhã será sempre o amanhã", "abra as janelas do coração e deixe o vento da felicidade balançar os seus cabelos e agitar a sua vida", "não queira, faça! não esteja, seja!", "sorria flores para os outros e ajude a fazer do mundo um imenso jardim", "dance sempre como se fosse a última dança, você não sabe quando será a próxima", e por aí vai.

Nada muito diferente dos "feliz Natal! Que a sua vida seja repleta de alegrias nesse novo tempo que se inicia", "feliz Ano Novo! Sáude, amor, dinheiro e sucesso em 2006!", "muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender" e, o pior de todos: "boas entradas!". Esse último, além de ter um duplo sentido infeliz, no fim das contas não quer dizer ou desejar muita coisa, é uma saída para quem quer fingir que é gentil. Na antevéspera do Natal ensaiei lágrimas no canto dos olhos ao ouvir uma telemensagem enviada por uma rede de drogarias da qual não sou cliente (!!!). Lágrimas advindas de gargalhadas, que fique bem claro. Primeiro, porque odeio telemensagens, e sempre rio daquelas vozes de atendente de telessexo interpretando textos tão profundos quanto os meus pires de cerâmica. E segundo, porque não dá pra ouvir coisas do tipo "...que a luz que ilumina o mundo entre em sua vida" e continuar sério. Deu vontade de responder: "mensagem errada, meu filho, eu ODEIO sol!". Uma pena aquilo ser gravado...

Pra falar a verdade, eu ando meio cansado de fins de ano no geral. Esse déjà vu de peru, rabanada, árvore, Papai Noel, "já é Natal na Leader Magazine", especial da Xuxa na TV, queima de fogos em Copacabana (não aguento mais ouvir falar nisso!!!), espumante, show da virada gravado na Globo, beijos e abraços com gosto de veneno. Perdi a paciência pras coisas que são legais porque acontecem todo ano e que acontecem todo ano porque alguém achou legal na primeira vez que aconteceu e não pensou em nada mais original pra fazer no ano seguinte, então "viva o repeat". Deu pra entender? Quero mais que isso! E creio que hoje terei bem mais que isso. Que "as entradas" (argh!!!) resumam as melhores linhas do que foi 2005 para mim.

E que ano! Ano de muitas alegrias, conquistas, de superação de obstáculos, de mudança de perspectivas, de poucos mas intensos amores, em suma, foi o ano do sim. Em que fui muito mais honesto e permissivo comigo mesmo. O ano do meu umbigo. Em que olhei para ele e pensei "nossa, que bolinha linda que tu é!", e resolvi tomar conta do que tenho de mais valioso. O ano da conquista de pequenas coisinhas enormes, como individualidade, auto-confiança, competência reconhecida, amigos pra todas as horas e pra toda a vida, só pra citar algumas. Houve fracassos também, sempre há, mas pouco valem diante da maravilha que foram os últimos 12 meses.

Portanto, o brinde que certamente farei hoje à noite é às conquistas. Ao que ficou, ao que passou, ao que me modificou, ao que preservou o que devia ser preservado, enfim, ao que de bom aconteceu em 2005. Foi ótimo, mas não quero mais. Isso seria contrariar todo o discurso anterior. Quero o novo, coisas novas, momentos novos, surpresas, intensidade. Quero apenas continuar crendo que a caminhada vale a pena.

A vocês, não desejo nada além do que vocês desejam para si. Só recomendo que não entrem nessa de resoluções e passem o dia de hoje de bode porque não deu tempo de concretizar todos os planos e superar todos os desafios. O ano é apenas uma forma que um sujeito qualquer inventou de contar o tempo. Sendo assim, não encare o dia de hoje como um prazo que se esgota, mostrando o quão incompetente você foi. A vida não é feita de planos, e sim de acontecimentos que muitas vezes desconhecemos e sobre os quais não temos controle. E é aí que reside a graça de estarmos aqui, na imprevisibilidade. Que 2006 seja em parte o que vocês quiserem, e em parte o que de melhor estiver para nos surpreender a qualquer momento. E já que esse final ficou ultra Ana Maria Braga, fecho com uma que caberia perfeitamente na boca dela (e viva a cacofonia!): "se algum dia vida lhe der as costas, não perca tempo e passe a mão na bunda dela".

Feliz 2006!