30.11.06

OS ANOS 90 SE FORAM?


Musicalmente falando, a pergunta é pertinente. Será que realmente tudo virou EMO ou putaria-featuring-rappers e a onda pop que dominou os anos 90 (os de má vontade preferem o verbo assolar) ficou no passado? Nada restou? Não é bem por aí. Quer ver? Vamos dar uma rápida conferida em algumas posições do top 10 britânico dessa semana, a segunda parada mais influente do globo (favor não confundir com "DA GLOBO"):

1. Take That - Patience - Ainda que sem Robbie, eles ressuscitam, persistem e não fazem feio. Number one para eles! Vale lembrar, é claro, que mesmo fora das dez mais da semana, Robbie Williams segue firme no posto de maior popstar inglês da atualidade.

3. Emma Bunton - Downtown - As Spice Girls não gravam há seis anos e, cá entre nós, não estão fazendo falta alguma. No entanto, Emma Bunton, a mais novinha e loira delas, surpreendeu público e crítica em 2003 com "Free Me", álbum com influências de bossa nova e Burt Bacharach, eleito pela Bíblia da música um dos melhores álbuns britânicos daquele ano. Agora, ela repete a fórmula em "Life in Mono", álbum que chega às lojas semana que vem puxado pelo single beneficente "Downtown", sucesso nos anos 60 na voz de Petula Clark. Regravação não emplaca? Quem disse?

4. Justin Timberlake Ft. Timbaland - My Love - Ele não é o novo Michael Jackson nem nunca será. Ainda assim, Justin é a única contribuição relevante do NSync para a música pop. Atualmente divulgando "Future Sex/Love Sounds", seu segundo álbum, o rapaz provou que sabe cantar e que o flerte com a música negra não era brincadeira de garotinho RBD. Ele precisa comer muito feijão com arroz para realmente se tornar essa Coca-cola toda que já dizem que ele é. Ambição não lhe falta e - levando em conta músicas como "Rock your body", "Lovestoned /I think she knows" e "Damn Girl" - pode-se dizer que talento também não.

5. Westlife - The Rose - Acredite ou não, esse não é o retorno da boyband do Reino Unido. Na verdade, o Westlife é, senão o único, um dos poucos grupos fabricados nos 90's que nunca saiu de cena. Entre coletâneas e álbuns de covers, eles mantêm a pose. "The Rose" faz parte do álbum de regravações que simplesmente desbancou o Oasis e os Beatles do topo da parada de álbuns dessa semana. Tá bom ou quer mais?

6. Beyoncé - Irreplaceable - Se houve uma respota norte-americana ao fenômeno Spice Girls na segunda metade de década de 90, ela se chamava Destiny's Child. Encabeçado por Beyoncé Knowles, filha do empresário e criador do grupo, o Destiny's Child misturava elementos da música negra americana com o pop chiclete. A fórmula deu muito certo nas paradas, mas o sucesso estratosférico de Beyoncé, com o álbum "Dangerously in Love", de 2003, ofuscou para sempre a imagem do grupo. O trio ainda lançou um álbum de inéditas e uma coletânea depois do debut solo de Beyoncé, mas o fim foi inevitável. "Irreplaceable" é uma baladinha boba, que não entraria nem no top cem na voz de uma fulana qualquer. Com a popozuda mais quente do showbizz, o sucesso era previsível.

8. All Saints - Rock Steady - O girlgroup britânico, também formado na esteira do sucesso das Spice Girls, havia fechado o boteco em 2000, após um barraco entre suas integrantes que faria inveja a Rocky Balboa. Fadadas ao limbo, Shaznay, Nicole, Natalie e Melanie pensaram: "se os tios do Take That podem voltar, por que a gente não volta também?" Trocaram beijinhos, entraram no estúdio e gravaram "Studio 1", álbum chaaaaaaaaaato de doer, que mais ou menos repete a fórmula de "Saints and Sinners", o tal álbum de 2000 que tinha alguns toques de música eletrônica. O primeiro single vai bem, obrigado, mas é difícil entender o porquê.


O saldo é: das 10 mais tocadas na terra da rainha essa semana, SEIS, isso mesmo, SEIS pertencem a grupos ou integrantes de grupos pop que engordaram os cofres das gravadoras nos anos 90. Tá certo que Justin e Beyoncé não fogem muito da fórmula putaria-featuring-rappers supracitada. Apenas fazem isso com ajuda dos maiores produtores da atualidade e invocando grandes nomes do passado, como Michael Jackson e Prince (no caso dele) e Aretha Franklin, Donna Summer e Diana Ross (no caso dela).

Se essa breve análise não prova que a história de que atualmente só emplaca homem que pinta o olho e dorme num caixão e menina que esfrega a boceta na câmera, pelo menos mostra que a fama daqueles sujeitos achincalhados há alguns anos - quando o pop parecia o caminho, a verdade e a vida - não era tão passageira assim. Se a constatação é animadora ou não, aí é outra história...