2.8.05

Meu filho vai se chamar Delúbio



Depois da Nazaré de Aguinaldo Silva eu pensei estar livre dos vilões feios, maquiavélicos e de nomes que mais parecem praga de madrinha bêbada. Mas eis que "América" não emplaca e entra no ar uma nova novela: "As malas da discórdia". A trama: um cantor de ópera decadente denuncia seus colegas de palco de terem recebido malas valiosíssimas de presente para cantar outra tragédia.

Fortes emoções, altos índices de audiência, bate-boca, reviravoltas, a trama nos levando a crer que a mentira é permitida pela lei daquele país fictício, participação especial de Jô Soares, fugas mirabolantes, alusão a Xuxa e sua inesquecível dança das cadeiras, um pobre mocinho bóia-fria esbravejando que a justiça deve ser feita...Enfim, um enorme sucesso!

Uma história com poucos mocinhos e muitos vilões. Vilões e comparsas de causarem arrepio na espinha tanto por seus atos, quanto por suas caras mal acabadas e seus nomes estrategicamente infelizes: Valério, Valdemar, Genu, Delúbio e a desastrada combinação de Fernanda e Carina. Isso sem contar na estrela maior desta super produção, o galã latino Roberto Jefferson (Djéfferson para William Wack).

Onde vai dar essa neo-chanchada é cedo demais pra saber. A novela está com cara de comecinho, muitas surpresas ainda estão por vir. Só não esperem um desenrolar muito diferente de outras tramas televisivas, afinal, todo mundo sabe que, lá no fundo, novela é tudo igual. Só mudam o elenco, o autor e alguns poucos detalhes. O final é sempre feliz, com o mocinho sorrindo e os bandidos presos ou morrendo. Mas que fique bem claro que são prisões e mortes de mentirinha, pura encenação. Os bad boys de hoje voltam lindos, repaginados e - até mesmo - como mocinhos nas novelas de amanhã. É questão de tempo, de esquecermos as atrocidades que eles cometeram. E nós esquecemos bem rápido, não tardamos a nos seduzir por seus novos discursos.

Portanto, na certeza de que os demônios de hoje são os deuses de amanhã, procuro manter um certo distanciamento e não deixar a emoção falar mais alto. Não quero passar os próximos meses me debulhando em lágrimas, porque sim, eu choro vendo novelas. Mas prometi para mim mesmo que dessa vez será diferente. Agora eu não vou chorar. Vou assistir de forma fria e distante a esse conflito de grandes astros, à ascensão de um salvador, à derrota dos maus elementos.

E como ser altamente influenciável por novelas, já bati o martelo: meu filho vai se chamar Delúbio. É forte, imponente e deve entrar em moda no próximo verão, já que esses autores de novela não tem obtido êxito com os nomes compostos. A última vez que acertaram foi há muito tempo, com Luís Inácio. Mas já está totalmente over.